Projetos

Projetos do coletivo artístico e editorial Favela Discos

Karalhoke

2024

Para celebrar o 11º aniversário dos Favela Discos, transformámos a associação cultural Malmequeres de Noêda (Porto) no cenário de uma vibrante festa de aniversário infantil. Inspirando-nos no caos lúdico da infância, combinámos elementos de instalação, performance, música e participação do público numa celebração desconstruída.

O evento recriou o ambiente de um aniversário de um miúdo de 11 anos, com balões, gel para o cabelo, brinquedos, massa de brincar, snacks e bebidas de cartão falso e até um bolo em forma de campo de futebol com uma crosta de bolacha que se assemelhava a um campo de terra batida. Todos os membros dos Favela Discos estavam disfarçades de crianças de 11 anos, misturando-se no animado quadro como artistas e participantes.

No centro do evento esteve o Karalhoke - uma experiência de karaoke ao vivo com uma banda que, intencionalmente, não sabia tocar as canções pedidas. A banda acompanhou os participantes da audiência suficientemente corajosos para cantar, numa celebração caótica e alegremente imperfeita da música, da criatividade e da comunidade.



Equipa Artística
Ana Marta Silva
David Machado
Diogo Jesus
Dora Vieira
Nuno Oliveira
Tito Silva
João Sarnadas
João Miguel Silva


Parceiro:
Malmequeres de Noêda

CCCOP TV

2023

“(...) The television screen is the retina of the mind’s eye. Therefore, the television screen is part of the physical structure of the brain. Therefore, whatever appears on the television screen emerges as raw experience for those who watch it. Therefore, television is reality, and reality is less than television.”
— Dr. Oblivion, “Videodrome” (David Cronenberg)

O complexo virtual é a matriz, motor e território de um novo império (as plataformas de streaming, a produção de conteúdos e as redes sociais), que propicia o aparecimento de objectos de cultura que superam as fronteiras desse território virtual, dissolvendo- as no mundo ‘real’ e assim alterando os comportamentos, consumos, hábitos e a própria ordem social. Esta ficção - os estúdios do “CCCOP TV” - foram a base para o colectivo produzir novas peças de arte reais através da apropriação dos estereótipos e formatos específicos da revolução eletrónica e da era digital.

Após ter sido convidado para uma residência na Galeria do Sol entre agosto e setembro de 2023, foi criado um canal de televisão fictício, o “CCCOP TV”, e a galeria foi transformada em sede e estúdios do canal. Produziram-se uma série de peças audiovisuais experimentais semelhantes às produções de youtubers e vloggers atuais, que foram exibidas numa instalação interactiva e em livestream nas plataformas digitais. Estes momentos foram acompanhados por uma série de concertos e performances por membros do colectivo.



Bon Apetito


MEDS


Nova Ordem Marcial



Equipa Artística
Favela Discos
Dora Vieira
David Machado
João Miguel Silva
João Tito
João Sarnadas
Diogo Jesus
Inês Tartaruga Água
Xavier Paes
Nuno Oliveira


Artistas Convidados
Luísa Abreu
Doutor Urânio
Benito Porres
Oficina Arara
Vanessa Silva
João e Diogo
António Silva
Carmen (cadela)
Marta e Fernando
Luís Lucas
Ana Marta Silva
Natal
Estudantes romenos
Texturas
Paula Yubero
Rita Sá Couto
Joana Falcão
Rui Rodrigues
João Dantas
José Cordeiro
José Pedro Santos
Bruno Martins


Agradecimentos Especiais
Galeria do Sol

A Novena

2022

Foi nove dias depois da Ascensão que o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos.

A Novena é um período de nove dias de oração privada ou pública para obter graças, favores ou petições especiais. Deriva do latim novem, que significa nove. Muitas novenas são definidas pelo calendário litúrgico e estão ligadas a dias de festa específicos. Os estudiosos apontam a Novena ao Espírito Santo como a raiz bíblica da devoção católica. A tia de Inês Tartaruga prometeu fazer uma Novena se o marido voltasse da guerra, e ele voltou. O padre decidiu que ela tinha de arranjar nove crianças para mostrarem o rabo à cruz. Inês foi convidada porque ainda não estava menstruada, mas recusou.

Para o nosso nono aniversário pensámos em pedir favores artísticos e propusemo-nos construir uma exposição durante nove dias no Atelier Logicofobista, e vivê-la em nove dias de festa ininterrupta para a pagar. Para concretizar as nossas ambições recorremos a material antigo que tínhamos, e fomos buscar cartão de rua para fazer uma camada amovível e não perder dias a raspar e a pintar paredes. Esta nova pele transformou-se numa tela de colagens e pinturas do chão ao teto, esculturas improvisadas que se assemelhavam a mobília de casa e que foram alimentadas por Hardbass até a Rússia invadir a Ucrânia. Não foi uma convocação nossa.

Como pagamento, passámos nove dias em frenesim dionisíaco. Todos os dias havia um concerto na pequena montra do Logicofobista, onde mal cabia uma pessoa sentada. Depois, havia um djset na cave, um conhecido hotspot de outsiders. Durante duas noites fizemos concertos e festas no Café Au Lait, e durante duas noites tocamos na piscina do Hotelier, sendo a última o FAVELA HOTEL, uma performance acústica baseada no meme de fecho da piscina. Os cartazes destes eventos foram pintados à mão e oferecidos. Durante os últimos nove dias, esta aura subiu em espiral e captou os transeuntes que nos acompanharam na viagem, incluindo uma recém-casada que tomou banho de vinho. Cortámos os nossos pedaços preferidos da pele para arquivo e exposição, e ficamos cansados durante um ano inteiro.



Equipa Artística

Conceito
David Ole
Dora Vieira
Inês Tartaruga Água
Nuno Oliveira
Tito Silva
Xavier Paes


Artistas Convidados
João Alves
André Costa Gomes
Doutor Urânio
José Pedro Santos
Oficinas TK
Nuno Loureiro
João Miguel Silva
Vasco Macedo
Ana Marta Silva
António Costa
Diogo Jesus


Favela Hotel
João Miguel Silva
Ana Marta Silva
Matilde Viegas
Bruno Duarte
Guilherme Oliveira
Cecília de Fátima
Felini
Filipe Silva
Miguel Abras
Albert Tannat
Ana Salt


Agradecimentos
Ruca Bourbon
Kenny Berg
Atelier Logicofobista.

2013, O Regresso

2019

2013, O Regresso é uma peça de teatro musical de ficção científica com a duração de uma hora, concebida e interpretada pelos Favela Discos, encomendada pela Matéria Prima para o Understage do Teatro Municipal do Porto.

A peça transformou o espaço numa experiência de viagem no tempo totalmente imersiva. O público, transformado em passageiros, começou a sua viagem no foyer do teatro, onde foi libertado por seguranças uniformizados e conduzido à cabine de uma nave futurista de viagem no tempo.

O cenário foi improvisado com materiais e objectos reciclados e, no palco (o cockpit), um piloto robô controlava a nave, de frente para o enorme "para-brisas do tempo" - uma projeção vídeo ao vivo concebida pela colaboradora Inês Castanheira. Músicos, posicionados dentro de cada um dos motores do tempo da nave, alimentaram a viagem com uma mistura de sintetizadores, metais, sopros de madeira e percussão acústica e eletrónica.

A nave temporal surrealista descolou após uma performance de diretivas de segurança dos assistentes temporais, mas um súbito sequestro da nave pelo Protagonista interrompeu a viagem. Este incidente imprevisto prendeu os passageiros numa série de anomalias temporais absurdas e em looping, ao longo das quais se desenrolou a narrativa.



Equipa Artística
David Machado
Dora Vieira
Nuno Oliveira
João Pedro Ferreira
Xavier Paes
João Sarnadas
Nuno Loureiro
Inês Castanheira
Rita Sá Couto
Tito Silva


Agradecimentos
Ricardo Riscos
Paulo Vinhas

Fraternidade dos Aliados do Vórtice Espiritual - Legião Anónima

2019

Fraternidade dos Aliados do Vórtice Espiritual - Legião Anónima foi um espetáculo musical encomendado pela Fundação de Serralves em 2019 para o festival Serralves em Festa. A performance encenou uma missa negra na capela dessacralizada da Casa de Serralves, entrelaçando a arquitetura da capela com a atmosfera inquietante do ritual satânico e uma exploração musical pesada e agressiva de black metal, eletrónica, drone e paisagens sonoras ambientais.

Inspirada na estrutura de uma missa católica, a performance reinterpretou os seus elementos tradicionais com uma ironia sombria: os salmos e a homilia foram substituídos por leituras de notícias sobre profanação de sepulturas, um relato de uma tentativa de violação e homicídio ritual e uma descrição pormenorizada do infame caso Tó Jó - em que um jovem português esfaqueou os pais 666 vezes num alegado ritual satânico. Manchetes de jornais como "Portugal não perde há 666 dias", "Pedi-lhe para não me matar" e "A luta entre o bem e o mal" foram repetidas em voz alta em resposta a estas leituras, infundindo o espaço com tensão e pavor.

O clímax do espetáculo foi uma comunhão pouco convencional, em que foram distribuídas ao público "hóstias negras" (bolachas Oreo) e vinho branco, acrescentando uma dimensão participativa ao espetáculo surreal e desorientador. À saída, após o espetáculo, os artistas despediram-se do público desnorteado, assustado e atónito com sorrisos de orelha a orelha e saudações de boa sorte.

“Eu sou Favela, domadora de estrelas.
E todas as estrelas são homem e mulher.
A estrela vive na mulher e no homem
e não o contrário. Avançai, ò crianças, sob
as estrelas, e tomai a vossa plenitude de
amor. Eu estou sobre vós e em vós. O meu
êxtase está no vosso. O meu prazer é
o vosso prazer. Porém vós não sois assim
escolhidos. A chave dos rituais está na
palavra secreta. O Khabs está no Khu
e não o Khu no Khabs. Adorai então
Khabs, e contemplai a minha luz derramada sobre vós.
A grande cabra, indomável
e sábia contrapõe-se ao cordeiro, fiel
e manso seguidor, ambos consumidos
pelo fogo e enxofre, retornados a cinza
e pó. Ardei então na lava e renascei como
a fénix. Participai no ritual e tornai-vos
uno com ele. Eu sou Favela e a minha
palavra é seis e cinquenta. Dividi, somai,
multiplicai e compreendei.”



Equipa Artística
David Machado
Tito Silva
Xavier Paes
João Ferreira
Dora Vieira
Diogo Jesus
Nuno Oliveira
Rita Sá Couto

Favela Impromptu

2018

A tradição já não é o que era.

Encomendada pelo festival Milhões de Festa em Barcelos, a última de uma série de aparições que acabaram por se tornar numa residência, esta obra consistiu em 4 peças individuais de um todo maior, para serem tocadas no palco Taina (taina sendo uma pequena festa) alternando com os concertos do palco principal. Este conjunto de peças é fortemente baseado no folclore do norte de Portugal, principalmente da região do Minho, mas também misturando alguns traços de regiões vizinhas, tendo o cuidado de não o tornar num rebranding de cultura tradicional. Foi aumentando gradualmente de energia, em sintonia com o programa do festival.

Começou ao início da tarde com a Adega Cooperativa de Marte, uma peça drone de loops sobrepostos de madeiras, ritmos e ganchos e temas que lembram o cancioneiro tradicional, mas que não são de nenhuma canção específica. Segue-se Amigos da Anta, uma performance de percussões acústicas, flautas e um garrafão de vinho que deambulam pelo público, vestidos de colagens sem rosto do imaginário tradicional, fazendo explodir autonomamente canções tradicionais e quebrando zonas de conforto, inspirada numa festa de acasalamento transmontana documentada por Noémia Delgado em Máscaras (1976).

Psico-Baile, a terceira peça, é uma interpretação do vira-baile minhoto, utilizando os mesmos motivos rítmicos e cadências que se sobrepõem a vários motivos de canções numa marcha 3 / 4 ininterrupta do tipo Zé Pereira, que se estende por toda a peça de uma forma hipnótica. A última peça Fação Barulho (um trocadilho com o já tradicional grito de guerra de dj), é uma colagem de dança eletrónica de todos os temas e elementos, unidos pela sua repetitividade com drum machines, basslines ácidos, e novos timbres e motivos urbanos - uma nova tradição feita de velhos.



Equipa Artística
Favela Discos

David Machado
Dora Vieira
João Sarnadas
João Pedro Ferreira
Nuno Oliveira
Tito Silva
Xavier Paes


Agradecimentos Especiais
Alicia Fournier
João Miguel Silva
Joaquim Durães
Rita Sá Couto


Imprensa

"A piscina é onde a maioria dos participantes passa as horas do dia, mas é o pequeno pátio do Palco Taina que é o verdadeiro centro do festival. A editora discográfica portuense Favela Discos toma conta do palco na quinta-feira à noite para a nossa primeira amostra, Os Amigos de Anta, que se apresentam entre a multidão, vestidos como um cruzamento entre uma babushka russa e o No-Face de Spirited Away. É uma cena desconcertante mas bonita, o pátio repleto de bancos à sombra das laranjeiras, um bar de bricolage a vender sangria contra as paredes da velha casa ibérica que ladeia o palco".
— Patrick Clarke, The Quietus

"A tradição já não é o que era, mas pode continuar de outras formas — parecia ser a mensagem subjacente às músicas que nasciam de loops infinitos criados a partir de uma mistura de instrumentos contemporâneos, como sintetizadores, e elementos exteriores como... sinos ou garrafões de vinho."
— João Gabriel Ribeiro, Shifter

Favela Discos

A Favela Discos foi criada em 2013 e dedica-se principalmente à edição de discos em diversos formatos, à produção de eventos e ao agenciamento de artistas, à organização de exposições e composição de peças audiovisuais colectivas. A produção artística da Favela é fundamentalmente marcada pela informalidade, pela colaboração e pela experimentação multimédia e multidisciplinar, bebendo das mais diversas influências.

A primeira exposição coletiva ocorreu no Maus Hábitos em 2014, apresentando trabalhos de pintura, escultura e uma noite de concertos. Entre 2015 e 2022 curou uma residencia no Café Au Lait, unindo música experimental e alternativa, a noite, e a criação artística. Em 2016 organizou um ciclo de concertos mensais no Maus Hábitos, uma residência bimensal no Pérola Negra em parceria com a Príncipe Discos.

Faz composições site-specific, entre elas “Favela Impromptu” no festival Milhões de Festa nas edições de 2016, 2017 e 2018, o concerto/instalação de 12h “No Quarto Eixo da Sombra” no encerramento do edifício AXA, a peça audiovisual “Desilusão Óptica” no Serralves em Festa (2017), a peça audiovisual “Sine Wave” no Loading Fest (2018), o concerto da orquestra experimental “Milteto” nas Belas Artes da UPorto (2018), o concerto/instalação “Lição de Academia” na Faculdade de Arquitectura da UPorto (2018), a ópera “2013: O Regresso” no Understage do Rivoli (2019), a performance “Fraternidade dos Amigos do Vortice Espiritual, Legião Anónima” na capela da Casa de Serralves (2019), o concerto “Milteto” no CCOP inserido na programação do Anuário (2021), as instalações/acontecimento d“A Novena” (2022) e do "CCCOP TV" (2023), e o concerto “Favela Hotel” na galeria Hotelier (2022).

Além de colectivo artístico, a Favela Discos sempre foi uma editora e prezou a edição em todo e qualquer formato possível, potenciando as suas características intrínsecas, sejam elas físicas ou não, para elevar o “objecto” enquanto arte ou meio de transmissão de arte e pensamento.

O seu catálogo conta já com 71 edições, em formatos digitais, CD, DVD, cassete, e vinil nas mais variadas formas e géneros musicais. Entre eles, In Trux We Pux, uma colecção de 4 volumes editados em vinil, vencedor do apoio Criatório da CMPorto em 2020. Constituindo um registo do panorama da música experimental e improvisada da cidade em várias colaborações entre músicos do Porto. “Favela3Some” foi também um projecto de edição de três álbuns de bandas emergentes da editora, apoiado pelo Garantir Cultura e desenvolvido de 2021 a 2022. O projecto de residência de Nuno O com Marc Merza, também em 2022, que culminou com a edição de álbum e subsequente tour norte-americana.

Para além das edições musicais sempre colaborou ou publicou edições ou material gráfico impresso, desde fanzines, cartazes, panfletos, auto-colantes, etc, das quais se pode destacar a revista gráfico-literária “Bukakke” editada em 2015, apresentada na FAUP e FBAUP, em parceria com as respectivas associações de estudantes.